Por Paulo Machado
Era ainda final de
verão no Brasil. De madrugada recebia o e-mail: “Depois de saber dos seus vários
feitos pelo mundo divulgando a gastronomia nacional, queremos convida-lo a
realizar o I Festival de Cozinha Brasileira na China. Assinado Embaixada do
Brasil em Beijing.” Emoção, êxtase, desafio… Cozinhar na outra metade do
mundo para aquela cultura milenar.
Acordo na terra da grande muralha. Todos os ingredientes que havia trazido do
Brasil chegaram na capital chinesa sãos e salvos. Para mim estava na cidade do
futuro. Tudo uber, de tecnologia a tradição e poluição. Comigo levei o Chef
Felipe Ribenboim como fiel escudeiro para aquela tarefa de servir um menu
que estudei, fiz e servi do lado de lá. Naquele primeiro dia recebemos um grupo
de 120 chineses que vinham do interior para comer nosso menu brasileiro.
Chegaram famintos depois de participar da primeira parte de um congresso que
acontecia no Hotel Gran Hyatt onde cozinhávamos. Observando aquela
“galera” percebi o quão incontrolável são pessoas com fome. Os
costumes chineses para se portar ao servir num buffet chamam atenção. Mesmo
advertidos, os comensais não queriam saber, misturavam feijão com quindim, bobó
com barreado. As saladas eram, quando muito, observadas.
O chinês não conhecia a cozinha brasileira. Fiquei extasiado, observando tanto
que uma cultura do Oriente não conhece a do Ocidente. Nos dias subsequentes
pude ver que havia pelo chinês uma curiosidade gastronômica por nossa cultura.
O salão do restaurante trabalhou quase sempre com a casa cheia. Depois daqueles
15 dias de buffet de cozinha brasileira, um saldo de mais de 500 comensais (sim,
tudo na China é populoso), 2 menus degustação para mais de 20 jornalistas,
bloqueios e convidados.
Parti para Shanghai, a mais ocidental das cidades do oriente. Fui a convite da
Casa do Livro, associação lusofona mundial, que promove eventos que tem em
comum a língua portuguesa. Proferi palestra sobre nossa cozinha. A palestra
aconteceu numa churrascaria brasileira chamada Latina. Na minha chegada na
cidade para almoçar num típico restaurante de Xanghai. A minha anfitriã chinesa
pegou o cardápio e de forma didática me mostrou as comidas no menu (todo
escrito em chinês e algumas com figuras que não ajudavam muito pois não
entendia o que era, estava escrito em grego para mim). Me chamou atenção pois
ela foi pedido varias coisas aleatoriamente. O que aconteceu a seguir foi um
verdadeiro festival para minha boca: sabores doces, salgados, picantes,
amargos, ácidos, quentes, frios. Tudo muito saboroso. Jacas se misturavam a
carne de porco, tudo era muito saboroso. Algumas coisas indecifráveis. É, eu
também não sabia muito daquela cultura, e talvez demorasse anos para começar a
assimilar aquela comida. Alguns restaurantes no Cantao, por exemplo, servem a matéria
prima animal, viva. O comensal pode escolher dentre: rãs, sapos, jacarés,
cavalos e animais de pequeno porte como pequenos moluscos.
Visitei um deles em Guangzou, no sul da China e foi inesquecível. Os festivais
de cozinha brasileira que acontece todos os anos desde esta minha ida já vão
para sua 5ª edição. A cada ano que passa o evento fica mais procurado por
chineses e estrangeiros que por aí passam e se esbaldam com nosso tucupi no
pato de Pequim, ou vatapá no bum de porco. Gostou? Vai um pão de queijo ai?