by Paulo Machado em referência ao Sobá Food Safari Pantanal
Já era quase hora de criança dormir, mas toda quarta-feira a noite era uma praxe, não só de meus pais mas de milhares de famílias campo-grandenses, levar os filhos pra comer na “feirona”. Assim chamávamos a feira noturna dominada por agricultores e cozinheiros imigrantes do Oriente que escolheram o coração de Mato Grosso do Sul pra fazer morada. Íamos em busca do sobá: caldo de carne, com massa tipo espaguete, guarnecido de omelete cortado bem fininho, cebolinha picada e pedaços de carne de porco ou filé mignon. Meu pai pedia também um espetinho de granito (carne gorda) pra compartilharmos. Acompanhava vinagrete e mandioca ouro, macia, douradinha e típica da minha região, quando chegava a mesa era regada com shoyu, outro hábito característico dos meus conterrâneos.
Final dos anos 90, sob protestos a grande feira, que ocupava quase um quilometro de rua é transferida para um novo local, mais limpo, arrumado e “pasteurizado”. Segundo a gestão da prefeitura na época: uma forma de manter a tradição da “feirona” viva na cidade, porém em um local mais amplo e arrumado. Infelizmente aquela antiga feira, de ares tão orientais ficou na saudade. Hoje, passados quase 20 anos, posso dizer que a Feira Central, perdeu um pouco de sua originalidade, porém ainda é um dos pontos obrigatórios para o turista que visita Campo Grande. As barraquinhas atuais, depois de um tempo, passaram a ganhar identidade própria e a qualidade do sobá e espetinho encontrados superaram a saudade da “feirona”. Uma das minhas barracas favoritas é a da Níria Katsuren, onde já levei figuras ilustres que passaram por aqui como os Chefs: Gabriel Broide, Bel Coelho, “Cumpade” João Barreto e Pedro Miguel Schiaffino (Peru) além da jornalista Cintia Oliveira, aqui da Menu, para citar alguns.
Quando visitei o Japão pela primeira vez procurei muito o Sobá que tomo desde a infância, mas aos poucos fui vendo que a busca era em vão, não que o nosso ensopado fosse ruim, e de longe uma caricatura, mas é que na terra do sol nascente existem muitos tipos de caldos e massas, o “Soba” por exemplo: é feito de massa de trigo sarraceno (cor mais escura e textura mais elástica) e servido na maioria das vezes frio, já o Okinawa Soba, que dá origem ao nosso (afinal foi desta região o maior numero de imigrantes okinawanos que foram viver no Centro-Oeste do Brasil), possui semelhante massa de trigo branca (que lembra o Udon), acompanha sempre um delicioso pedaço gordo da barriga do porco e o caldo de base suína leva também katsuobushi (flocos de peixe) e kombu (alga comestível). Por cima tem ainda o kamaboko (bolinho preparado a base de peixe) e um picles de gengibre. Receita japonesa, que aqui chegou, adaptou-se ao nosso paladar e ingredientes e nos cai tão bem. E a quem prova deixa saudades e vontade de voltar.
Onde tomar sobá:
Em Campo Grande: Feira Central – Barraca da Níria
Ou Sobaria Shimada – R. Antônio Corrêa, 776 – Jardim Monte Libano.
Em Sampa: Sobaria – Cozinha Sul Mato-Grossense: Rua Áurea, 343 – Vila Mariana.
Receita Sobá:
- 500g de macarrão especial para sobá
- 700g de filé mignon ou lombo suíno cortada em tiras finas
- ½ xícara de molho de soja
- 5 ovos
- 1 colher de manteiga
- Cebolinha picada
- 1 colher de óleo de soja
- Gengibre processado com um pouco de água para acompanhar
- Caldo de carne
Modo de Preparo:
Tempere a carne cortada em tiras com um pouco do molho de soja e reserve. Numa frigideira refogue a carne com uma colher de óleo, reserve. Na mesma panela acrescente o caldo de carne e o restante do molho de soja. Cozinhe por alguns minutos até que o caldo fique com sabor agradável e homogêneo, reserve aquecido. Numa panela com água cozinhe o macarrão e reserve. Numa frigideira prepare ovos mexidos fritos na manteiga. Monte o sobá: Num bowl fundo adicione o macarrão já previamente cozido em água, uma generosa concha de caldo até quase deixar o macarrão submerso e por cima os ovos cortados, a cebolinha e a carne refogada. Sirva quente acompanhado do gengibre batido.
* Sobá Food Safari Pantanal